sexta-feira, dezembro 22, 2006

O erotismo de Anaïs ou a escrita da ilusão


A chave da obra romanesca de Anaïs Nin (1903-1977) é o seu diário, laboratório da criação, criação ele próprio, varinha mágica contra o esquecimento, a passagem do tempo, confidente, refúgio de um mundo hostil, indiferente, penoso. A criadora de A Casa do Incesto considerava-o um "Baedecker da liberdade", guia de uma viagem interior, onde se avança na nudez, mas de rosto mascarado. É essa voz cultivada e cosmopolita que se oferece para logo se derrubar num ritmo jazzístico, cujo sopro a autora queria reconstituir pela escrita, não apenas na perversão da objectividade do real, mas na reflexão subjectiva sobre a experiência.

O Journal de Anaïs dir-se-ia o reflexo da sua luta constante contra a realidade. Por ele passam a relação com o pai e os amores/paixão (Henry e June, Eduardo, Rank...); a vida conjugal com Hugo; as cidades e as viagens; a noite e a nostalgia de um corpo vazio ou jubilatório; a escrita e o erotismo, a imaginação e a fantasia; Paris ou o México; os autores da sua predilecção, "três deuses das profundezas", Dostoievski, Lawrence e Proust; e os amigos, de Artaud a Duchamp, de Durrell a Brancusi, de Dali a Duras.

É, portanto, uma voz diarista a de Anaïs, voz sussurrante tão poética quanto intelectual que atravessa os milhares de páginas do Journal, sem o qual não é entendível de forma satisfatória o sobressalto da sua ficção onírica que tantos dissabores lhe trouxe com as editoras. Condenada a não deixar Los Angeles nos últimos anos de vida, a escritora publica por poucos dólares, oferecidos por um coleccionador, uma recolha de contos eróticos escritos nos anos 40. Graças a Passarinhos (Little Birds) - agora publicado entre nós pela Bico de Pena -, o seu nome figurará pela primeira vez, e alguns meses após a morte, na lista dos best-sellers da Europa e dos EUA, suprema ironia que teria decerto apreciado, ela que se arriscou a a revelar-se (e aos outros) no seu vasto "atelier clandestino", o imortal diário para o qual viveu e por meio do qual tentou observar, reflectir e compreender o mundo.

No prefácio de Passarinhos, Anaïs Nin confessa ter sido "ma-dre confessora de uma "invulgar casa de prostituição literária", acrescentando que a maior parte dos contos, escrita desesperadamente por dinheiro, foi feita com o estômago vazio "Ora a fome é óptima para estimular a imaginação (...) Quanto maior a fome, maiores os desejos, como os dos homens na prisão, desenfreados e obsidiantes."

Anaïs Nin cultivou a " flor do erotismo" com a sua sensibilidade poética e romântica, melancólica e insinuante, transformando o corpo, o sexo, a inteligência do desejo numa ficção subterrânea que liga indefectivelmente um ser a outro em múltiplas orquestrações. E fê-lo nunca enveredando pela obscenidade à maneira de Miller ou Moravia, nem mesmo de certa prosa e poesia de Hilda Hilst.

O discurso pornográfico exibe uma sexualidade sem mistério numa perspectiva descritiva e fria, vulgar até à náusea, usando o corpo como objectivo do enredo, apenas atento à satisfação imediata, e assim rompendo o contrato tácito que faz mover a roda do desejo não expor demasiado. O erótico, como o de Anaïs, é apresentado na linha de uma subjectividade sedutora aliada aos poderes do imaginário e a uma estética feminina alheia à crueza; entrelaça-se, pois, com o trabalho da ilusão, do encantamento, do claro-escuro. A avaliação dos limites deste tipo de literatura torna-se, porém, muitas vezes difícil - mesmo nestes contos - consoante a moldura social, moral, religiosa e cultural dos leitores que dela se aproximam.

O sexo não é só corpo na obra de Anaïs, sobretudo em certas passagens do diário. Dir-se-ia esquecimento do corpo, tornando-se este mundo, paisagem, colapso, memória, acto. Os contos de Passarinhos, na sua irregularidade, não são dos mais belos textos da escritora, trazem-nos, contudo, a voz sensual e intensa de uma mulher que achava que nesse campo a linguagem, durante séculos nas mãos dos homens, estava por inventar, continuando a ser território inexplorado.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Vida



Senhor, eu vivo coitada
vida, des quando vos non vi:
mais, pois vós queredes assi,
por Deus, senhor ben talhada,
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-mir morrer.

Vós sodes tan poderosa
de min que meu mal e meu ben
en vós é todo; [e] por en,
por Deus, mha senhor fremosa,
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-mir morrer.

Eu vivo por vós tal vida
que nunca estes olhos meus
dormen, mnha senhor; e, por Deus,
que vos fez de ben comprida,
querede-vos de mim doer
ou ar leixade-mir morrer.

Ca, senhor, todo m é prazer
quant i vós quiserdes fazer.


D. Dinis

domingo, novembro 26, 2006

Mário Cesariny- O Pintor





Ao longo da muralha


Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny

Mário Cesariny


Pintor e poeta português, natural de Lisboa. A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça. Mais tarde, viria a frequentar a Academia de La Grande Chaumière, em Paris, cidade onde conheceu André Breton, em 1947. Rapidamente atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, tornou-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal. Ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa.
Cesariny, figura sempre inquieta e questionadora, afastava-se assim, de maneira definitiva, do movimento neo-realista. Passou a adoptar uma atitude estética de constante experimentação, logo visível nas suas primeiras colagens e pinturas informalistas realizadas com tintas de água, e distribuídas no suporte de forma aleatória. Seria este princípio anárquico que conduziria a obra de Cesariny ao longo da sua vida (incluindo a sua produção poética, que o autor considerava construir a partir deste desregramento inicial das suas experiências na pintura). A continuidade da sua prática plástica levá-lo-ia, portanto, a seguir uma corrente gestualista, por vezes pontuada de um corrosivo humor. Dinamizador da prática surrealista em Lisboa, Cesariny iria criar «antigrupos», com a mesma orientação mas questionando e procurando um grau extremo de espontaneidade, tentativa também visível na sua obra poética. Participou, em 1949 e 1950, nas I e II Exposições dos Surrealistas, pólos de atenção de novos pintores, mas ignoradas pela imprensa.
Crescentemente dedicado à escrita, Cesariny viria a publicar as obras poéticas Corpo Visível (1950), Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (1952), Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (1953), Manual de Prestidigitação (1956), Pena Capital (1957), Nobilíssima Visão (1959), Poesia, 1944-1955 (1961), Planisfério e Outros Poemas (1961), Um Auto para Jerusalém (1964), As Mãos na Água a Cabeça no Mar (1972), Burlescas, Teóricas e Sentimentais (1972), Titânia e a Cidade Queimada (1977), O Virgem Negra. Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Naturais & Estrangeiras (1989), e a obra de ficção Titânia (1994). A edição da sua obra não segue linearmente a cronologia da sua produção. Corpo Visível é o volume em que as características surrealistas são já dominantes — em textos anteriores, a denúncia social aproximava-se, por vezes, do neo-realismo, embora já em Nobilíssima Visão esta escola fosse objecto de um olhar crítico. O humor, o recurso ao non-sense e ao absurdo, são marcas da escrita de Cesariny, de uma ironia por vezes violenta, que incide sobre figuras e mitos consagrados da cultura portuguesa e ocidental.
Da sua obra escrita sobre a temática do surrealismo, que analisou e teorizou em vários textos, fazem parte A Intervenção Surrealista (1958), a organização e autoria parcial da Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito (1961), a antologia Surreal-Abjection(ismo) (1963), Do Surrealismo e da Pintura (1967), Primavera Autónoma das Estradas (1980) e Vieira da Silva – Arpad Szènes, ou O Castelo Surrealista (1984).


Nasceu em Lisboa em 1923 e faleceu hoje, Domingo 28 de Novembro de 2006

sábado, novembro 25, 2006

Wish You Were Here




So, so you think you can tell Heaven from Hell,
blue skies from pain.
Can you tell a green field from a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?
And did they get you to trade your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
And did you exchange a walk on part in the war for a lead role in a cage?
How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year,
Running over the same old ground.
What have you found? The same old fears.
Wish you were here.

Pink Floyd

Super Mãe

Por isso é que eles não saiem de casa...


Melody

(foto by Ziraldo)

Carlos Drummond de Andrade



Carlos Drummond de Andrade

Poeta e prosador brasileiro (Itabira, MG, 1902 – Rio de Janeiro, 1987). Poesia complexa e profunda, de
múltiplas facetas: a visão de um universo grotesco, a tristeza e horror à vida, o senso de solidariedade humana, a luta pela expressão. Em gênero mais leve, como a crônica, revela, ora com desencanto, ora com espírito satírico, minuciosa observação do quotidiano. Tem sido traduzido para várias línguas e reconhecido o seu valôr humano e poético.


Melody

A Bruxa


Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América.

Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.

De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
desses calados, distantes,
que lêem verso de Horácio
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
e a essa hora tardia
como procurar amigo?

E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
que entrasse nesse minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.

Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher?

Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.

Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem.


Carlos Drummond de Andrade

Cada coisa a seu tempo


Jantar ao som de musica, é um insulto tanto ao cozinheiro como ao violinista.
A nenhum se dá o devido valor.


Melody

Três Homens num Bote



Não fosse Jerome K. Jerome (1859-1927) um dos maiores vultos do humor inglês e tudo o que haveria a dizer acerca de Três homens num bote caberia na genérica etiqueta «Livro de Bordo»: estamos afinal (são estas as palavras do autor) diante o registo «fiel» das peripécias vividas por George, Harris e J. (já para não falar do cão!) ao longo de uma passeata pelas águas do imponente Tamisa.
As coisas complicam-se quando o suposto relato se revela a súmula de episódios tanto mais hilariantes quanto se pretender compará-los a uma simples viagem de barco.
Publicado pela primeira vez em 1889, Três homens num bote foi entusiasticamente recebido na Inglaterra e nos Estados Unidos, sagrando Jerome K. Jerome mestre de gerações de profissionais da comédia.
Lição de refinamento britânico com um século de idade? Apenas a prova de que hoje, como nos itinerários burgueses da Inglaterra do século XIX, o humor e a ironia são bens ao serviço de alguns males bem humanos.Curiosamente, não foi pensado como texto humorístico, muito pelo contrário: o objectivo era fazer uma descrição histórica e topográfica do Tamisa, o mais aristocrático dos rios ingleses, que Jerome adorava.
Mas a graça e a frivolidade foram-se infiltrando e as passagens divertidas alcançaram tanto sucesso que, sempre que ‘os bocados históricos’apareciam, eram cortados pelo editor de Home Chimes, que estava a publicar o texto em folhetim.
Os três protagonistas eram, há que dizê-lo, bastante genuinos: Harris era Carl Hentschel, um polaco que muita gente confundia com um alemão; George era George Wingrave; e o próprio Jerome completa o trio que costumava apanhar o comboio em Richmond para ir passar os domingos no rio.
Montmorency, o cão, também existiu, e o episódio com a chaleira baseia-se num incidente real, tal como as explorações dos três homens se baseiam nas experiências de Jerome e dos seus dois amigos.

-Fui consultar o meu médico. É um velho amigo que me toma o pulso, me vê a língua e fala do tempo, tudo de graça, sempre que penso que estou doente; por isso, achei que lhe ia fazer um grande favor se fosse agora ter com ele. “Aquilo de que um médico precisa”, pensei eu, “é prática e cá estou eu para isso. Ele vai praticar mais comigo do que com setecentos pacientes vulgares que só têm uma ou duas doenças cada.”E assim fui de imediato ter com ele e ele perguntou-me: –Então, que te aconteceu?Eu disse:–Não vou roubar-te mais tempo, caro amigo, a contar-te o que aconteceu. A vida é breve e ainda podias morrer antes de eu acabar. Mas vou dizer-te aquilo que não me aconteceu. Não tenho artrose da lavadeira. A razão por que não tenho artrose da lavadeira é coisa que não percebo; mas é um facto que disso não sofro. Porém, de tudo o resto sofro.E disse-lhe como tinha feito aquela descoberta...

Um livro leve e hilariante, onde cada um de nós se identifica em parte ou em todo.
Imtemporal e imperdivel.


Melody

terça-feira, outubro 24, 2006

A Consciência de Zeno



Já no fim da vida, Zeno Cosini, um bem-sucedido empresário de Trieste (norte da Itália), decide fazer um balanço das suas experiências no divã de um psicanalista. Ali, deitado no estreito sofá, ele começa a dar-se conta de que toda a sua história, passada e presente, compõe-se de pequenos fracassos: o casamento com uma mulher que ele não escolheu, o trabalho que não lhe agradava, as tentativas falhadas de parar de fumar ou de simplesmente mudar de rumo, ter outro destino.

A lenta escavação dos factos e das impressões pela memória é então submetida à visão implacável, irónica e às vezes hilariante de Zeno - que assim, de certa forma, consegue libertar-se da "doença", mas não das suas neuroses.

Imediatamente aclamada por autores do porte do romancista James Joyce e do poeta Eugenio Montale, esta obra-prima de Italo Svevo (1861-1928) põe do avesso as distinções entre sanidade e loucura, sucesso e derrota, ao mesmo tempo em que expõe ao ridículo os valores da moral burguesa.

Valendo-se de recursos próprios da psicanálise, como a livre associação de idéias, o romance faz ainda uma sátira da ciência criada por Freud - de quem Svevo, aliás, foi tradutor.

É assim que Zeno chega à conclusão de que a sua vida, afinal, "foi mais bela do que a dos chamados sãos".

Italo Svevo morreu cinco anos depois de alcançar a consagração literária com este romance.
Um livro imperdível e intemporal.
Melody

Uma História de Amor


Abelardo e Heloísa
O romance entre Abelardo e Heloísa situa-se no período da Idade Média.
Pedro Abelardo nasceu em 1079 na Bretanha. Aos 16 anos foi estudar para Paris, onde depois de frequentar a Escola Catedral de Notre Dame, tornou-se em pouco tempo muito conhecido.
Como autêntico escolástico, a dialéctica proporcionava-lhe o maior prestígio.
Quando estava próximo dos 40 anos, o seu caminho cruzou-se com o de uma donzela formosa e inteligente, numa tarde em que Heloísa saiu para passear com a sua criada. Quando os olhares dos dois se cruzaram, o coração de Heloísa bateu mais forte.
Desde esse encontro, Heloísa nunca mais conseguiu esquecer Abelardo.
Fingindo estar doente, dispensou os seus antigos professores e passou a interessar-se pelas mesmas obras filosóficas que Abelardo, na esperança de que este seria atraído pelos seus estudos e viria até ela.
Abelardo tornou-se amigo de Fulbert, cónego de Notre Dame, tio e tutor de Heloísa que logo o aceitou como o mais novo professor de sua sobrinha, hospedando-o em sua casa, em troca das aulas nocturnas que ele lhe daria.
Em pouco tempo essas aulas passaram a ser ansiosamente aguardadas, e contando com a confiança de Fulbert, passaram a ficar a sós. Fulbert ia dormir, e a criada de Heloísa retirava-se discretamente para o quarto ao lado.
O fulgor amoroso levou um dia Abelardo a tirar o cinto que prendia a túnica de Heloísa e os dois se amaram apaixonadamente.
A partir desse momento passou a desinteressar-se de tudo, só pensando em Heloísa, descuidando as suas obrigações de professor.
A propósito deste período da sua vida Abelardo fala com toda a franqueza:
“Estivemos primeiro juntos sob o mesmo tecto e em seguida os nossos corações uniram-se. Aparentemente entregues ao estudo, abandonámo-nos inteiramente à nossa paixão. Os livros estavam abertos diante de nós, mas nossas palavras referiam-se mais ao amor que às letras; os beijos eram mais numerosos do que as explicações dos textos”.
Abelardo acabou por não aguentar simultaneamente as noites de amor e os trabalhos de uma dura vida diária. A inspiração desaparecia, os seus cursos tornavam-se menos interessantes.
Depressa toda a cidade ficou ao corrente do romance e quando, por sua vez, Fulbert compreendeu o que se passava, expulsou imediatamente Abelardo da sua casa.
No entanto isso não foi suficiente para separá-los.
Heloísa preparou poções para o seu tio dormir e, com a ajuda da sua criada, Abelardo foi conduzido ao porão, local que passou a ser o ponto de encontro dos dois e ninho de amor.
Uma noite, porém, alertado por outra criada, Fulbert acabou por descobri-los. Heloísa foi espancada, e a casa passou a ser cuidadosamente vigiada.
Mesmo assim o amor de Abelardo e Heloísa não diminuiu, e eles passaram a encontrar-se, para satisfazer os seus desejos, onde pudessem, em sacristias, confessionários e catedrais, os únicos lugares que Heloísa podia frequentar sem acompanhantes a seu lado.
Quando, algum tempo depois, Heloísa ficou grávida, resolveram casar-se.
O casamento foi realizado secretamente em Paris, na presença de Fulbert .
No entanto este casamento secreto de modo algum agradava ao cónego Fulbert, que não se cansava de falar nisso e acabando por tornar a vida tão insuportável a Heloíse que Abelardo a enviou para o convento onde fora educada.
Fulbert supondo que o marido da sobrinha se queria assim libertar das suas obrigações, resolveu dar um fim àquilo tudo.
Contratando dois carrascos pagou-lhes para invadirem o quarto de Abelardo e durante a noite castrarem-no.
O amor de Heloísa permaneceu tão ardente como antes, escrevendo-lhe numerosas cartas cheias de paixão. Mas qual podia ser a resposta do pobre filósofo desesperadamente desmasculinizado?
Escreveu-lhe então uma carta paternal em que a exortava a resignar-se à sua sorte.
“Se, nas coisas de Deus, sentes necessidade da minha direcção e de conselhos, diz-me o que desejas saber; responder-te-ei em toda a medida das luzes que Deus quiser conceder-me”.
Na sua carta já nada se encontra do antigo amante apaixonado; é o dialéctico que de novo se revela.
O coração a sangrar de Heloísa não esperava estas sábias palavras.
Numa outra carta fala-lhe ainda do ardente amor que não consegue reprimir, embora entretanto se tenha tornado madre do seu convento.
A resposta do infeliz Abelardo foi uma severa homilia.
“Se queres conservar a esperança de um dia te unires mim na felicidade eterna, chora pelo teu salvador, e não pelo teu sedutor”.
Para tentar amenizar a dor que sentiam pela falta de um do outro, ambos passaram a dedicar-se exclusivamente ao trabalho.
Abelardo construiu uma escola-mosteiro ao lado da escola-convento de Heloísa.
Viam-se diariamente, mas nunca se falavam .
Qual expiação pela ousadia de um ardente amor proibido.
Abelardo morreu em 1142, com 63 anos, Heloísa ergueu um grande sepulcro em sua homenagem, e quando faleceu algum tempo depois, foi sepultada ao lado dele.
Conta-se que, ao abrirem a sepultura de Abelardo, para ali depositarem Heloísa, encontraram o seu corpo ainda intacto e de barcos abertos, como se estivesse aguardando a chegada dela.


sábado, outubro 07, 2006

Intemporal



Pensava em entristecer
Mas hoje não vai dar, não tenho tempo
Quero explicar meus sentimentos
E entender seus ressentimentos
Mas não tenho tempo
Poderia deixar tudo como está
E daqui a pouco sair pra te encontrar
Mas não tenho tempo
Queria voltar a te ver
Mas acho que vai ser difícil
Tenho muita coisa pra fazer
E não quero ter tempo
Assim não me entristeço
Não tenho que explicar
Nem preciso te entender
Se me ocupar, não preciso me preocupar
E não tendo tempo, não tenho sentimentos
Precisava pensar em tudo isso um pouco mais
mas não tenho tempo...


Márcio Martins da Silva


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sábado, setembro 30, 2006

Memórias de Adriano



Pouco antes de morrer, o imperador Adriano, Pontifex Maximus dos territórios romanos entre 117-138 d.C., decide escrever uma longa carta-testamento ao jovem Marco Aurélio, o futuro imperador-filósofo.

Nela Adriano passa em revista os principais episódios de sua extraordinária existência: a relação de afeto com a mulher de Trajano, Plotina; as campanhas militares em diversas regiões da Europa; as viagens à Ásia Menor; a paixão pela caça; as discussões filosóficas com os principais pensadores do seu tempo; as relações com Trajano, seu antecessor; e o casamento com Sabina.

No entanto, não são as façanhas públicas e heróicas que constituem o centro vital do relato do velho imperador, mas seu amor pelo belo jovem grego Antínoo, que se suicidou no auge do esplendor físico.

A partir dessa perda, Adriano interroga-se sobre o destino, a precariedade da vida e a inevitabilidade da morte, que não poupa senhores nem escravos. "Esforcemo-nos por entrar na morte com os olhos abertos", escreve o imperador nos seus últimos dias, seguindo os preceitos da filosofia estóica que sempre o nortearam.

Lançado em 1951, este romance de Marguerite Yourcenar consumiu quase 30 anos de pesquisas e logo se tornou um clássico da literatura moderna. Poucas vezes uma experiência histórica específica --a biografia de um homem ilustre e o prenúncio da decadência de Roma-- foi transformada pela ficção de modo tão vivo quanto nestas Memórias de Adriano.

Melody

quarta-feira, setembro 27, 2006

Question


Why do we never get an answer
When we´re knocking at a door
With a thounsend million questions
About hate and death and war?

Era esta a questão que os Moody Blues punham no album "Question of Balance" de 1970.
Passaram-se 36 anos, e ainda não obtivemos qualquer resposta!

Melody

domingo, setembro 17, 2006

Tibete



O Tibete é um país da Ásia Central, situado na China e tenta sua autonomia desde 1951. É conhecido como "teto do mundo" pois é um vasto planalto localizado a mais de quatro mil metros de altitude. Seus habitantes estão cercados pelas montanhas do Himalaia e por desertos; mas na verdade, isolados do mundo, pois não conhecem os avanços da ciência e jamais ouviram falar em astronautas.

O clima da região é bem rigoroso; a neve permanece nove meses durante o ano. É o país mais religioso do mundo, chegando a ser uma nação unificada no século III d.C., devido à expansão do Budismo. Depois, o país foi dividido em pequenos principados, invadido por mongóis. O primeiro Dalai Lama, autoridade máxima do Budismo Tibetano, assumiu em 1642. O povo tibetano habita a capital Lhasa, fundada há 14 séculos.

Atualmente, existem duas Lhasas, a tradicional - que possui sólidos edifícios de três andares, com telhados coloridos e decorados -, e a moderna -, que surgiu após a invasão chinesa, com uma arquitetura utilitária e largas avenidas. É na velha cidade que se encontra o mais sagrado dos templos tibetanos, o Jokhango, construído no século VII d.C., centro espiritual da nação, que recebe vários peregrinos.

Ao redor do templo, existe um caminho chamado Barkhor, um exótico mercado ambulante de produtos artesanais. Helena Blavatsky, fundadora da Teosofia, designou esse país como o "centro energético do mundo".
No Tibete existe o palácio Potala, que é a imagem mais representativa da nação. Possui treze andares, construído com cobre fundido, para protege-lo dos terremotos.

Em Potala, os livros sagrados budistas eram impressos manualmente, e ainda estão guardadas as escrituras budistas como o Tanjur, com 227 volumes, e o Kanjur, com 108 volumes. Os textos apócrifos relatam a possibilidade de Jesus ter estudado no Tibete; é comum ouvir sobre essa história na velha cidade. O Tibete pode estar longe do mundo, mas é o único lugar do planeta onde os homens procuram desvendar os enigmas da alma humana.

Atualmente, o 14º Dalai Lama, tenta negociar a liberdade do povo tibetano da China. Na sua última conferência realizada nos Estados Unidos em 2001, ele disse: "através da visualização, dou aos chineses meu pensamento positivo, e em troca, recebo a ignorância". A liberdade do Tibete é uma tarefa árdua, que dura mais de cinqüenta anos, contando com a ajuda da ONU e do reconhecimento de poucos outros países.


Monica Buonfiglio

País de Paz e sabedoria, um exemplo a seguir...


Melody

A Rosa




... Julgava-me muito rico por ter uma flor única no mundo e, afinal só tenho uma rosa vulgar...

Foi então que apareceu uma raposa .

- Olá, bom dia! disse a raposa.

- Olá, bom dia! - Respondeu delicadamente o princepezinho...

-Anda brincar comigo - pediu o princepezinho. Estou tão triste...

- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...

Andas á procura de galinhas? (diz a raposa)

Não... Ando á procura de amigos. O que é que "cativar" quer dizer?

... Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.

Laços?

Sim, laços - disse a raposa. - ...

Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo...

(raposa) Tenho uma vida terrivelmente monótona...

Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia se Sol.

Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? ... não me fazem lembrar de nada. É uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então quando eu estiver cativada por ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti...

- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora já não tem tempo para conhecer nada. Compram as coisas feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não tem amigos. Se queres um amigo, cativa-me!

E o que é preciso fazer? - Perguntou o princepezinho.

- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada . A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar mais perto...

Se vieres sempre ás quatro horas, ás três já eu começo a ser feliz...

Foi assim que o princepesinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:

- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar...

... Então não ganhaste nada com isso!

- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...

Depois acrescentou:

- Anda vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo.

O princepesinho lá foi... - vocês não são nada disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês... - não se pode morrer por vocês...

... A minha rosa sozinha. vale mais do que vocês todas juntar, porque foi a ela que eu reguei, que eu abriguei... Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, ás vezes calar-se. Porque ela é a minha rosa.

E então voltou para ao pé da raposa e disse:

- Adeus...

- Adeus - disse a raposa. - vou-te contar o tal segredo. É muito simples:

Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...

Foi o tempo que tu perdes-te com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela.

Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...



Antoine De Saint-Exupery "O Princepezinho"

A Lua de Joana



Querida Marta,
Fui ter com um amigo da Rita e mandei fazer uma tatuagem no pulso: um relógio... Agora tenho um relógio eternamente parado nas zero horas.

Pelo menos este não poderei vender... a minha mãe teve uma crise de nervos quando me viu o braço e deu-me uma estalada. Não senti a dor, porque já tudo me doía.

Quando o meu pai chegou a casa, depois do jantar, deu-me uma fúria, e, por momentos, senti uma enorme vontade de levantar o braço, pôr-lhe em frente da cara e berrar com toda a força "Agora sei sempre a que horas vais chegar, Pai! Este relógio é o único que tem as tuas horas! Estás contente?!"

Mas não lhe disse nada. Nem ele a mim...

Não aguento mais. Preciso urgentemente de fazer uma cura qualquer. tenho de sair daqui... tenho montes de coisas para estudar, mas não dá para pegar num livro. Sinto a cabeça nos pés. Debaixo dos pés.

Um beijo da Joana



Querida Marta,

Estou em casa do meu tio Augusto, irmão do meu pai. O Diogo entrou finalmente num processo de desintoxicação...

A minha mãe veio cá ontem ver-me e sentámo-nos as duas no jardim. Não falamos de nada importante, porque não estamos habituadas a conversar de algo que interesse ás duas. De qualquer forma foi bom...

O meu pai é que ainda não veio ver-me. Telefona e diz sempre quando tiver um tempinho, virá. Julgo que, desta vez, nem é uma questão de tempo, é só uma questão de medo. Ele não consegue ver-me assim...

Se ele soubesse como era importante que viesse cá ver-me...A minha mãe contou-me que ele anda abatido por minha causa... "O pai gosta muito de ti Joaninha..." Que raio de maneira que ele tem de gostar! Onde é que ele estava quando eu me meti nesta porcaria'

Um beijo da Joana



Querida Marta,

Esta noite tive o pesadelo mais incrível de sempre!...Eu estava sozinha num lugar que parecia o céu, mas não era... Comecei a subir as escadas e, quando cheguei quase o cimo, vi que estava alguém à minha espera. Era uma espécie de anjo, com um manto escuro, mas não tinha cara... percebi que tinha de segui-lo...

Que é isso? (perguntou a mãe ao pai)

São cartas... da Joana...

Encolheu as pernas lentamente e fixou os olhos inchados naquele baloiço estranho suspenso no tecto em forma de lua.

Desapertou a correia do relógio e pousou-o devagar sobre a mesinha. Agora, tinha todo o tempo do mundo. para quê?

Maria Teresa Maia Gonzales "A Lua De Joana"

O que nos dizem...


Porque será que insistimos em contar ás criancinhas histórias de príncipes e princesas que casam, têm muitos filhos e são felizes para sempre?

A versão moderna destes contos infantis são as chamadas revistas cor-de-rosa que exibem uma vasta gama de "beautiful people" permanentemente rodeada de amigos, casas, carros, iates e filhos sempre divertidos e bem vestidos.


Façam o que fizerem, digam o que disserem, a ideia é dar a todas estas pessoas uma imagem próspera e feliz.


Tudo à nossa volta parece indicar que o casamento é sinónimo de felicidade e estabilidade imediatas e nada nem ninguém nos prepara para a realidade que pode ser incrivelmente feliz mas passa por fases de adaptação e tem, necessariamente altos e baixos.


Por outro lado, nunca ninguém diz que, após o nascimento dos filhos, muitos casais entram em crise.
A ilusão que persiste é a de que um filho pode salvar um casamento mas, na verdade, um filho raramente salva um casamento em crise. Antes pelo contrário, pode gerar desentendimentos até num casamento razoavelmente estável.

Casar ou ter filhos podem ser experiências extraordinariamente importantes e construtivas desde que vividas de forma realista. Desde que não contemos com aquilo que ninguém nos pode dar.


Um casamento feliz não tem nada a ver com o clássico mas sim
com um investimento afectivo diário, com uma vontade de fazer mais e melhor e com uma aposta permanente no crescimento, valorização e realização do outro.


Daquele que está ao nosso lado. Só prestando atenção ao outro e ás suas próprias expectativas de felicidade é possível ser feliz e, então sim, ter muitos filhos e ficar juntos para sempre.

Laurinda Alves (Ideias para pensar)


Fall


Gosto do outono, para muitos, pode parecer um pouco triste.
Gosto dessa leve melancolia, do céu ainda brilhante e limpo, mas onde a luz já principia a declinar.

Gosto. Nem sempre gosto.


Quando me olho ao espelho, apercebo-me que também no meu corpo a luz começa a declinar.


Longe vai o tempo em que gostava do Outono porque gostava, sem me dar ao trabalho de fazer analogias. Sabia que outras primaveras viriam, seguidas de verões quentes e brilhantes.

Cada vez me é mais difícil sentir a Primavera em mim, e não tardará muito em que apenas a poderei rever nos jovens, o que, diga-se em abono da verdade, pouco me consola.

Um dia o meu pai disse-me:"...O que é triste, é sentirmos todas as vontades de quando eramos jovens, mas faltar-nos a energia fisica e o tempo para as concretizar..."


Prestei pouca atenção. Estava na Primavera da vida.

Por algum motivo retive a reflecção de meu pai. Recordo-a hoje como se tivesse sido dita ontem.

A vontade de projectar, criar, inovar, amar... continua em mim com a mesma força de hà muitos anos atrás, mas, o corpo parece sofrer de uma indolência contrária, começa a sentir o cansaço de muitas primaveras, e tende em deixar-se ficar no Outono.

Já não é o corpo que me obedeçe, mas sim eu que obedeço ao corpo. É a matéria que triunfa sobre o espírito!

Deviamos poder mudar de matéria, como mudamos de vestido, quando se gasta.

Não existe dignidade no envelhecimento, apenas aceitação revoltada, mas quase sempre calada.
Caminho pelo meu Outono, com um sorriso nos lábios, tentando conformar quem diz abertamente não o aceitar, não sabendo elas que estão a ser muito mais honestas do que eu!

Melody.

O Poder do Discurso



Por mais que aparentemente o discurso seja pouco importante, as interdições que o atingem logo e depressa revelam a sua ligação com o desejo e com o poder. E o que há de surpreendente nisso, já que o discurso - como a psicanálise nos demostrou - não é simplesmente o que manifesta (ou oculta) o desejo; é também o que é o objecto do desejo; e já que - a história não cessa de nos indicar - o discurso não é simplesmente o que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, aquilo pelo que se luta, o poder do qual procuramos apoderar-nos.


Michel Foucault, in 'A Ordem do Discurso'

O Poder em Perspectiva



O poder é a posse das faculdades ou dos meios necessários para fazer os

outros homens contribuirem para as suas próprias vontades. O poder

legítimo é aquele que determina os outros a se prestarem aos nossos

objectivos pela ideia da sua própria felicidade: esse poder não passa de

uma violência quando, sem nenhuma vantagem para nós, ou mesmo para

nosso prejuízo, obriga a que nos submetamos à vontade dos outros.

Paul Holbach, in 'O Sistema Social'

sábado, setembro 16, 2006

Poder sem Futuro



Quando se considera que o produto do trabalho e das luzes de trinta ou quarenta séculos foi entregar trezentos milhões de homens espalhados pelo globo a cerca de trinta déspotas, a maioria ignorante e imbecil, cada um dos quais é governado por três ou quatro celerados às vezes estúpidos, o que pensar da humanidade e o que dela esperar no futuro?

Sébastien-Roch Chamfort, in 'Pensamentos, Máximas e Anedotas'

quinta-feira, setembro 14, 2006

Sabi



adopt your own virtual pet!

Vieira Da Silva


Maria Helena VIEIRA DA SILVA (1908-1992), pintora de origem portuguesa, nasceu em Lisboa, no seio de uma família que cedo estimulou o seu interesse pela pintura, pela leitura e pela música. Em 1928 vai para Paris onde estuda escultura, optando definitivamente pela pintura em 1929. Em 1930 casa-se com o pintor húngaro, Arpad Szenes. Pintora de temas essencialmente urbanos, a sua pintura revela, desde muito cedo, uma preocupação com o espaço e a profundidade. Vive no Brasil de 1940 a 1947. A sua pintura desse período reflecte a angústia da guerra. Depois do seu regresso a Paris, na década de 50, participa em inúmeras exposições em França e no estrangeiro. Em 1956 obtém a nacionalidade francesa. O estado francês adquire obras suas a partir de 1948 e em 1960 atribui-lhe a primeira de várias condecorações. A partir de 1958, organizam-se retrospectivas da sua obra e são-lhe concedidos importantes prémios internacionais. Em Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta a sua obra em 1970, 1977 e 1988. Em 1983, o Metropolitano de Lisboa propõe-lhe a decoração da estação da Cidade Universitária; a obra Le métro (1940) é reproduzida em azulejos com a colaboração do pintor Manuel Cargaleiro. Em 1994, é lançado o Catálogo Raisonné da sua obra. Pintora da Segunda Escola de Paris, Vieira da Silva teve um importante papel no panorama da arte internacional.

"Un Été de Sel"

Melody.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Maria de Lurdes Ribeiro


MALUDA

Maria de Lurdes Ribeiro, que adotou o nome artístico de «Maluda», nasceu em Nova Goa (atual Panjim), nas Índias Portuguesas, em 1934.

Embora experimentando vários gêneros, o principal de sua pintura está voltado para a paisagem, em que sua arte, no dizer de Pamplona, muito se aproxima de Paul Cézanne (1839-1906), o mestre do Impressionismo.
Ou, como escreveu Fernando Pernes, sua arte representa «um sistemático decantamento da experiência cezanneana».

Maluda foi bolsista da Fundação Gulbenkian, estudando em Londres e na Suíça, entre os anos de 1977 e 1978.

Melody.

Inimigos.



"...É triste não ter Amigos?
Ainda mais triste é não ter Inimigos,
Porque, quem não nem inimigos,
É sinal de que não tem:
Nem talento que faça sombra,
Nem caráter que impressione,
Nem coragem para que o temam,
Nem honra contra qual murmurem,
Nem bens que lhe cobicem,
Nem coisa alguma que invejem..."



Voltaire

domingo, setembro 10, 2006

Considerando...


Há poucos dias, debatiamos, uma amiga e eu, se o suicidio era uma forma de coragem perante a vida, ou se era uma cobardia?. As opiniões divergiam apenas um pouco...mas divergiam!

Sempre defendi a vida no seu todo, na luta perante as adversidades e na alegria por tudo o que nos traz de bom.


Bem sei que o facto de sermos donos da nossa existência, nos dá a segurança do poder como forma de decisão.
Conta-se que um Judeu, sobreviveu ao Holocauto, porque todos os dias se aproximava do arame farpado electrificado, sabendo que bastava tocá-lo para que todo o horror desaparecesse da sua existência.

Foi no contexto dessa discussão amigável, que resolvi postar as vidas de três mulheres com o mesmo destino, a morte por suicídio!

Sylvia Plath, Virginia Woolf, Florbela Espanca, foram mulheres bem nascidas, educadas e com uma vida confortável financeiramente.
Artistas de arte maior, que é a escrita, amadas pelos companheiros e amigos, nada faria prevêr os seus tristes fins.

Mas...ao lêr-mos os seus legados, depressa chegamos à conclusão que possuíam uma Alma atormentada, que um vazio enorme as consumia, e com o qual não conseguiam lutar.
Mas será que tentaram lutar?

Não! não tentaram! eram possuídas de egos elevados e em constante concentração de si próprias. Tudo e todos os que as rodeavam, eram utilizados nas suas exaltações tanto para o bem, como para o mal.
Nunca souberam lidar com as ambiguidades da vida, nem com o facto de as suas obras à altura, não terem sido devidamente reconhecidas.

Considerando o que foi dito, insisto na minha opinião, querida amiga,que o suicídio é a arma dos cobardes. Nada os demove para que deles se fale, apenas se ouvem a si mesmo, o que acresce à cobardia uma grande dose de egoísmo.

A morte é a única certeza do ser humano!

Por muito que o caminho da vida seja tortuoso, vale a pena ser vivida! É um jogo de astúcia este, o de vivêr...


Melody.

sábado, setembro 09, 2006

Florbela Espanca



FLOR BELA, RAÍZES E RAMOS
Vila Viçosa, final do ano de 1894, noite de sete para oito de Dezembro.
Antónia da Conceição Lobo sente as dores do parto. Nasce uma menina. Não vem ao encontro das alegrias da família. Não há assim lugar ao habitual regozijo de tais momentos. Não parece ter sido desejada por qualquer das partes. É baptizada como filha de pai incógnito. Avôs e avós também incógnitos. É-lhe posto o nome de Flor Bela de Alma da Conceição. Na literatura portuguesa será chamada Florbela Espanca. Apelido que receberá do pai, João Maria Espanca, já então levantado o véu encobridor. Curiosamente, o padre que a baptiza e a madrinha usam o mesmo apelido.
A mãe morre algum tempo depois.
Tem infância sem falta de carinhos e a sua subsistência não será ensombrada por insuficiências que atingem muitas das crianças que nascem em circunstâncias semelhantes.
O pai não a deixará desprovida de amparo. Ela própria assim o diz quando aos dez anos, em poema de parabéns de aniversário ao "querido papá da sua alma" escreve que a "mamã" cuida dela e do mano "mas se tu morreres/ somos três desgraçados" .
Será acarinhada pelas duas madrastas, como revelará na sua própria correspondência.
Ingressa no liceu de Évora.
Num tempo em que poucas raparigas frequentam estudos, e bonita como é, apesar de umas tantas vezes afirmar o contrário, põe à roda a cabeça dos colegas.
Inicialmente sem dificuldades económicas, como deixa perceber. Explicadora, trabalhará ensinando francês, inglês e outras matérias. Mais tarde, com vinte dois anos, irá cursar Direito na Universidade de Lisboa.
Edita os seus primeiros livros, Livro de mágoas em 1919, e em 1923 Livro de Soror Saudade.
Refere o seu Alentejo e os locais ligados às suas origens, e exalta a Pátria em alguns poemas. Mas a sua escrita situar-se-á sobretudo no campo da paixão humana.
AS FACES DUMA PERSONALIDADE
Como dizem vários estudiosos da sua pessoa e obra, Florbela surge desligada de preocupações de conteúdo humanista ou social. Inserida no seu mundo pequeno burguês, como evidencia nos vários retratos que de si faz ao longo dos seus escritos.

Não manifesta interesse pela política ou pelos problemas sociais. Diz-se conservadora.
Uma quase inventariação das suas diferentes personalidades desenha-se nas palavras de um dos seus contos, a que deu o titulo À margem de um soneto que integra o volume intitulado O Dominó Preto.
Quem, ao ler a sua obra poética, a sua prosa, as suas cartas, os seus outros escritos, não a vê usar um milhar de vezes para si própria, termos semelhantes, ultrapassando até tais qualificativos e exageros?
Quem é realmente Florbela?
Ninguém é definível numa só dimensão, num só conjunto de qualidades. Todo o ser é uma intersecção de adjectivações diferentes e até opostas.
O seu egocentrismo, que não retira beleza à sua poesia, é por demais evidente para não ser referenciado praticamente por todos.
Na sua escrita há um certo numero de palavras em que insiste incessantemente. Antes de mais, o EU, presente, dir-se-á, em quase todas as peças poéticas. Largamente repetidos vocábulos reflexos da paixão: alma, amor, saudade, beijos, versos, poeta, e vários outros, e os que deles derivam.

Escritos de âmbito para além dos que caracterizam essa paixão não são abundantes, particularmente na obra poética. Salvo no que se refere ao seu Alentejo.
Florbela, poetisa, não pode ser separada da sua condição de mulher, das suas paixões, da sua maneira de ser, da sua vida, das suas contradições, humildade e orgulho, preconceitos, sua presença e ausência, seus amores e desamores.
Poucos dias antes de morrer interroga-se "que importa o que está para além?" Responde, repetindo o que diz no soneto A um moribundo: seja o que for será melhor que o mundo e que a vida.

A morte anunciada ao longo da sua escrita ocorrerá pouco depois. Põe fim à vida em 8 de Dezembro de 1930, dia em que faz trinta e seis anos, em Matosinhos, onde vive. Aí é enterrada sendo mais tarde trasladada para a sua terra natal.
(Rolando Galvão)

Árvores do Alentejo


Árvores do Alentejo

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
--- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!



Florbela Espanca

Uma Vida Inteira Num Único Dia.



"É possivel morrer"

Alguém precisava morrer para que a vida das outras pessoas pudesse continuar
Será outra pessoa, será um poeta perturbado, um visionário, que morrerá.


"...esta é a hora do passarinho morrer e não vamos mudar isso...É um ser selvagem, quererá morrer ao ar livre...- Deixemo-la agora em paz, todos...


"Não consigo seguir nenhum pensamento que remota do presente para o passado. Não fico parada, perdida, como Susan, com lágrimas nos olhos, lembrando-me de casa; nem me deito como Rhoda, encolhida entre as Samambaias, manchando de verde minha roupa rosa, enquanto sonho com plantas que florescem debaixo do mar, e rochas entre as quais os peixes nadam lentos. Não, eu não sonho."


As ondas

Virginia Woolf.

A Morte como Transcendência


Virginia Woolf:

Virginia Woolf nasceu em Londres em 1882. Recebe uma educação esmerada, frequentando desde muito nova o mundo literário.
Fez parte do grupo Bloomsbury, círculo de intelectuais sofisticados que, passada a I Guerra Mundial, investira contra as tradições literárias, políticas e sociais da era vitoriana.
Toda a vida de Virginia Woolf foi dedicada à literatura.
Suicida-se em1941, vítima de grave depressão, deixando um numero considerável de ensaios, correspondência e o romance "Entre os Actos".


Diário:

Não tenho tempo para descrever os meus planos. Tinha muitas coisas a dizer a respeito de As Horas e da minha descoberta, de como escavei belas cavernas atrás das minhas personagens; penso que isso dá exactamente o que quero — humanidade, humor, profundidade. A ideia é que as cavernas se ligarão entre si e cada uma vem à luz do dia no momento presente.

Virginia Woolf, no seu diário, 30 de Agosto de 1923

A Despedida:

Meu Muito Querido:
Tenho a certeza de que estou novamente a enlouquecer: sinto que não posso suportar outro desses terríveis
períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou a começar a ouvir vozes e não me consigo concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor. Deste-me a maior felicidade
possível. Foste em todos os sentidos tudo o que
qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta
terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou a destruir a tua vida, que sem mim poderias
trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto
consigo escrever como deve ser. Não
consigo ler. O que quero dizer é que te devo toda
a felicidade da minha vida. Foste inteiramente
paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer isso — toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse ter
salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar
a estragar a tua vida. Não creio que
duas pessoas
pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos.
V.

Prólogo:


Ela sai apressadamente de casa, com um casaco pesado de mais para o tempo que estava. É o ano de 1941. Começou outra guerra. Deixou um bilhete para Leonard e outro para Vanessa. Caminha decididamente na direcção do rio, segura do que vai fazer, mas, mesmo assim, mesmo neste momento, sente-se quase absorta com a vista das colinas, da igreja e de um grupo disperso de ovelhas, incandescentes, levemente coloridas por uma pálida tonalidade de enxofre, pastando sob um céu que escurece. Detém-se a observar as ovelhas e o céu e depois continua a andar. As vozes murmuram atrás dela; bombardeiros roncam no céu, embora ela olhe à procura dos aviões e não os veja. Passa por um dos trabalhadores da quinta (chama-se John?), um homem robusto, de cabeça pequena, com uma jaqueta cor de batata, ocupado a limpar a vala que corre pelo campo de salgueiros. Ele olha para cima, para ela, inclina a cabeça e olha de novo para baixo, para a água castanha. Enquanto passa por ele a caminho do rio pensa como foi bem sucedido, como é afortunado por estar a limpar uma vala num salgueiral. Ela, pelo contrário, falhou. Não é de modo algum uma escritora; é simplesmente uma excêntrica talentosa. Retalhos de céu brilham nas poças formadas pela chuva da noite anterior. Os seus sapatos afundam-se ligeiramente na terra amolecida. Ela falhou e agora as vozes voltaram, sussurram, indistintas, imediatamente fora do alcance da sua visão, atrás dela, aqui, não, viras-te e elas desapareceram, foram para outro lugar qualquer. As vozes regressaram e a dor de cabeça aproxima--se, tão certa como a chuva, a dor de cabeça que esmagará o que quer que é ela e ocupará o seu lugar. A dor de cabeça aproxima-se e parece (é ou não é ela própria que os está a invocar?) que os bombardeiros apareceram de novo no céu. Chega ao aterro, sobe-o e desce pelo outro lado, para o rio. Está um pescador a montante, muito longe — não reparará nela, pois não? Começa a procurar uma pedra. Trabalha depressa, mas metodicamente, como se obedecesse a uma receita que tem de ser escrupulosamente respeitada para dar bom resultado. Escolhe uma pedra mais ou menos com o tamanho e a forma do crânio de um porco. Enquanto a levanta e a mete à força numa das algibeiras do casaco (a gola de pele faz-lhe cócegas no pescoço), não pode deixar de notar a sua fria consistência gredosa e a sua cor, um castanho-leitoso com manchas verdes. Pára junto da beira do rio, que lambe a margem e enche as pequenas irregularidades do lodo com água límpida, que poderia ser uma substância completamente diferente do líquido castanho-amarelado, sarapintado e de aspecto sólido como uma estrada, que se estende tão uniformemente de margem a margem. Avança. Não tira os sapatos. A água está fria, mas não ao ponto de ser insuportável. Detém-se, com a água fria até aos joelhos. Pensa em Leonard. Pensa nas mãos dele e no seu rosto, nos sulcos fundos à volta da sua boca. Pensa em Vanessa, nas crianças, em Vita e Ethel: tantos. Falharam todos, não falharam? Sente de súbito uma imensa pena deles. Imagina-se a virar-se, a tirar a pedra da algibeira, a voltar para casa. Provavelmente regressaria a tempo de destruir os bilhetes. Podia continuar a viver, podia fazer essa derradeira gentileza. Parada com a água pelos joelhos, decide não o fazer. As vozes estão ali, a dor de cabeça vem a caminho, e, se ela se entrega outra vez ao cuidado de Leonard e Vanessa, eles não a deixarão partir de novo, pois não? Resolve insistir em que a deixem partir. Avança desajeitadamente (o fundo está lodoso) até a água lhe chegar à cintura. Olha para o lado de cima, para o pescador que tem vestido um casaco vermelho, e não a vê. A superfície amarela do rio (mais amarela do que castanha, vista assim de perto) reflecte baçamente o céu. Este é, pois, o último instante de verdadeira percepção, um homem a pescar de casaco vermelho e um céu nublado reflectido na água opaca. Quase involuntariamente (ela sente o acto como involuntário), anda ou tropeça para a frente e a pedra puxa-a para baixo. Durante um momento, ainda, isto parece nada, parece outro fracasso, apenas água fria de que pode sair nadando para a margem. Mas depois a corrente enrola-se nela e toma-a com uma força tão vigorosa e inesperada que é como se um homem forte se tivesse erguido do fundo, lhe agarrasse as pernas e as prendesse contra o peito. É como se fosse uma coisa pessoal.


OBRAS:

The Voyage Out (1915)
Noite e dia (1919)
Mrs. Dalloway (1925)
Rumo ao Farol (1927)
Orlando (1928)
As ondas (1931)
Flush
Os anos (1937)
Entre atos (1941)

segunda-feira, setembro 04, 2006

Sylvia Plath



Sylvia Plath nasceu em 27 de outubro de 1932 e suicidou-se a 11 de fevereiro de 1963, quanto tinha apenas 30 anos. Até então sua única obra poética era The Colossus, publicado em 1960. Mas são os poemas escritos após a publicação de seu primeiro livro que a transformaram num mito da poesia contemporânea.Os seus últimos dez meses de vida foram marcados por uma intensa atividade poética que gerou seus melhores poemas, uma obra que a elevou ao patamar dos grandes poetas do século.

Plath é frequentemente classificada como poeta confessional. Neste sentido,a sua vida é retratada fielmente na sua poesia, de alto grau emocional. Plath sempre foi marcada por uma forte instabilidade, fruto do trauma causado pela morte do pai quando ainda era uma criança de oito anos. A morte do pai foi a essência da imagem do colosso masculino, do deus másculo e onipotente que ela ao mesmo tempo adorava e repudiava.

A sua vida foi marcada pela sombra de homens que considerava poderosos e opressores, figuras que ao mesmo tempo a inspiravam e a diminuíam. Ao lado do pai, Plath posicionou o marido Ted Hughes, também poeta, homem que ela admirava profundamente. Plath adorava estas duas figuras masculinas e inseriu-as na sua poesia na forma do mito do deus ausente ou morto, cuja ausência ou morte ora é lamentada e ora é celebrada.

Em julho de 1962 Plath descobre o envolvimento adúltero de Hughes com outra mulher e seu mundo desmorona. Plath percebe que vivia uma fantasia e esta constatação dá início à produção de seus maiores poemas. O divórcio consuma-se em outubro desse mesmo ano, um momento de intensa criatividade. Deste período surgem os poemas mais fortes e mórbidos de Plath. A morte está mais presente do que nunca. O seu imaginário é preenchido por sangue, desmembramento, ossos e órgãos internos que criam imagens muito fortes na sua poesia.

Plath muda-se em Dezembro com os dois filhos para um apartamento em Londres durante um dos mais frios invernos do século. Em Janeiro, cerca de um mês antes de se suicidar, é publicado The Bell Jar, um romance autobiográfico que explora o seu passado e os seus traumas.

Wilton Rossi

A Lua e o Teixo


Esta é a luz do espírito, fria e planetária.
As árvores do espírito são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam o seu pesar a meus pés como se
eu fosse Deus,
picando-me os tornozelos e sussurrando a sua humildade.
Destiladas e fumegantes neblinas povoam este lugar
que uma fila de lápides separa da minha casa.
Só não vejo para onde ir.

A lua não é uma saída. É um rosto de pleno direito,
branco como o nó dos nossos dedos e terrivelmente
perturbado.
Arrasta o mar atrás de si como um negro crime; está mudo
com os lábios em O devido a um total desespero. Vivo
aqui.
Por duas vezes, ao domingo, os sinos perturbam o céu:
oito línguas enormes confirmando a Ressurreição.
Por fim, fazem soar os seus nomes solenemente.

O teixo aponta para o alto. Tem uma forma gótica.
Os olhos seguem-no e encontram a lua.
A lua é minha mãe. Não é tão doce como Maria.
As suas vestes azuis soltam pequenos morcegos e mochos.
Como gostaria de acreditar na ternura...
O rosto da efígie, suavizado pelas velas,
é, em particular, para mim que desvia os olhos ternos.

Caí de muito longe. As nuvens florescem,
azuis e místicas sobre o rosto das estrelas.
No interior da igreja, os santos serão todos azuis,
pairando com os seus pés frágeis sobre os bancos frios,
as mãos e os rostos rígidos de santidade.
A lua nada disto vê. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é negra: negra e silenciosa.



Sylvia Plath

segunda-feira, agosto 28, 2006

Atlântida II (O Fim).

O Capitólio de Atlântida


- O Fim da Atlântida: Nova Luz sobre uma antiga lenda.


A Atlântida era governada em paz, era rica em comércio, avançada em conhecimento dominava as ilhas e continentes que a rodeavam. De acordo com a lenda de Platão, o povo da Atlântida tornou-se complacente e os seus líderes arrogantes; como punição, os deuses destruíram Atlântida, inundando-a e submergindo-a em um dia e uma noite. Embora Platão tenha sido o primeiro a usar o termo “Atlântida”, há antecedentes da lenda. Há uma lenda egípcia que Sólon provavelmente ouviu enquanto viajava pelo Egipto e que foi passada a Platão anos depois. A ilha nação de Keftiu, lar de um dos quatro pilares que sustentavam o céu, era considerada uma gloriosa civilização avançada que foi destruída e se afundou no oceano.
Existe outra história semelhante à de Atlântida, mais significante em termos de época e geografia... e está baseada em factos. A civilização minoana tinha uma grande e pacífica cultura baseada na ilha de Creta e reinou aproximadamente em 2200 A.C.. A ilha minoana de Santorini, mais tarde conhecida como Thera, tinha um imenso vulcão. Em 1470 A.C. entrou em erupção com uma força que se estima ter sido maior que a do Krakatoa, obliterando tudo sobre a superfície de Santorini. Os terramotos e tsunamis resultantes, devastaram o resto da civilização minoana, cujos remanescentes foram facilmente conquistados pelas forças gregas. Talvez Santorini fosse a “Atlântida” real. Alguns argumentaram contra esta idéia, observando que Platão havia especificado que a Atlântida se tinha afundado há 10.000 anos, mas o desastre minoano ocorrera apenas há 1.000 anos. Pode ser que erros de tradução ao longo dos séculos alterassem o que Platão realmente escreveu, ou pode ser que ele estivesse intencionalmente encobrindo os fatos históricos para atingir os seus propósitos. Existe ainda uma outra possibilidade – a de que Platão tenha inventado a história da Atlântida.
Mesmo assim, a sua história do continente que submergiu cativou as gerações que se seguiram. Outros pensadores gregos, como Aristóteles e Plínio, argumentaram sobre a existência da Atlântida, enquanto que Plutarco e Heródoto escreveram sobre ela como um facto histórico. Atlântida tornou-se parte do folclore em todo o mundo, foi colocada em mapas oceânicos e procurada pelos exploradores.

OUTRAS TEORIAS:

K.T. Frost também acreditava que a Atlântida poderia ter sido parte da ilha de Creta, que antes de 1500 A.C. era a sede do império minoano. Escavações arqueológicas mostram que Creta no tempo minoano tinha provavelmente uma das culturas mais sofisticadas dessa época.
Então, num piscar de olhos, a civilização minoana desapareceu. Estudos geológicos mostraram que numa ilha que agora conhecemos como Santorinas, localizada dez milhas ao norte de Creta, ocorreu um desastre que teria sido capaz de destruir o estado minoano.
Houve uma explosão vulcânica quatro vezes mais poderosa que as do Krakatoa. A onda tsunami que se chocou com Creta deve ter penetrado ilha adentro por aproximadamente meia milha, destruindo todas as cidades e povoados da costa. A grande frota minoana de navios afundou em poucos segundos. Durante uma noite o poderoso Império minoano foi esmagado.

Nota Pessoal: O segredo que envolve Atlântida, sempre me fascinou. Não me custa a acreditar que tivesse existido uma civilização muito mais avançada que a nossa, assim como também acredito não sermos os únicos a habitar o Universo.

A existência e o fim de Atlântida, seja história ou simplesmente uma lenda, tem na actualidade uma similitude à nossa existência e ao nosso fim.

Dias virão, onde se especulará sobre a existência de uma civilização, que através de guerras, experiências atómicas, desrespeito pelos seus semelhantes, segregações raciais, sociais e económicas, assim como atentados violentos contra Natureza, desapareceu subitamente entre um dia e uma noite...!

Melody

Atlântida I



A História antiga da humanidade contém algumas lacunas envoltas em mistérios e enigmas ainda não desvendados. Enigmas que despertam no homem contemporâneo uma busca incessante pela sua verdadeira origem e por sua real História! Quem não se sente interessado, curioso ou até mesmo fascinado com o avanço técnico contido na Grande Pirâmide de Quéops, os Moais da Ilha de Páscoa, a construção de Macchu Picchu e a avançada cultura Inca, as Pirâmides Astecas, os complexos Maias e seu perfeito calendário, a arte e eloquência Grega, os menires Celtas e a Grande sabedoria Veda, somente para citar alguns exemplos?
Um estudo mais aprofundado leva-nos a um lugar comum onde a ciência oficial ainda teima em negar (embora os menos ortodoxos admitam claramente) a teoria - para muitos, realidade - do Continente chamado Atlântida, berço da Quarta Raça Raiz
!

O continente Atlante situava-se no Atlântico Norte, indo desde a costa da actual Flórida (USA) até as ilhas Canárias e os Açores. A sua cultura era muito avançada. Em muitos pontos, ultrapassava a nossa com facilidade. Oriunda de um aperfeiçoamento e emigração dos remanescentes da Terceira Raça Raiz (Lemuriana), a raça Atlante alcançou rapidamente um patamar elevado em conhecimentos e tecnologia. Esta tecnologia diferia muito da atual em termos de padrão de frequência vibracional. Estava diretamente relacionada com as forças da Natureza e continha aspectos energéticos (metafísicos e radiônicos) e até espirituais unidos numa só Ciência (conceito praticamente impossível de ser aceite e assimilado pela "Ciência" actual).

A raça atlante possuía um desenvolvimento bastante avançado das faculdades ditas paranormais, existindo uma "ligação directa" com outras realidades dimensionais. O conhecimento das Grandes Verdades Cósmicas era aberto, não existindo nada absolutamente velado. Mantinham intercâmbio com culturas provenientes de várias regiões do espaço (civilizações extraterrestres) e com os Seres das Hierarquias do Governo Oculto Espiritual do Planeta. Acredita-se que a tecnologia de construção e manipulação de energias das estruturas piramidais seja de origem extraterrestre, transmitida aos Atlantes , tais como as Pirâmides do Egipto e do México (apenas réplicas dos originais atlantes).

Na região conhecida como "Triângulo das Bermudas" existe um vórtice de energia espaço-temporal, gerado possivelmente pela Grande Pirâmide Atlante submersa ali. Neste local, além de outros fenómenos tais como a já rotineira alteração da leitura dos instrumentos de navegação, registram-se também muitas aparições ufológicas. Aliás, os atlantes dominavam máquinas voadoras que pousavam em qualquer parte do planeta, principalmente nas "Pistas de Nazca" no Peru.

Foram encontrados no Egipto e, principalmente na cultura Inca, caracteres hieroglíficos e objetos que lembram aeronaves, algumas apresentando as asas em delta! Tais objetos foram testados em túneis de vento, apresentando um comportamento aerodinâmico perfeito!


O domínio dos cristais, juntamente com a manipulação de aparelhos radiónicos (a hoje conhecida "pilha cósmica" dos radiestesistas - um conjunto de semi-esferas sobrepostas - foi muito utilizada na Atlântida como arma de grande poder), era um dos pontos fortes de seu conhecimento, uma vez que, aliado a um grande poder mental, era gerado um formidável potencial energético altamente positivo quando bem direcionado, assim como incrivelmente devastador quando errónea e maleficamente utilizado.
Houve um declínio dos padrões éticos, morais etc. que gerou estados vibratórios bastante densos. Aliás, este foi um dos principais (senão o principal) motivos do desaparecimento da civilização das Sete Portas de Ouro, que também fazia uso de tecnologia nuclear. A situação chegou a um estado crítico quando ocorreu a manipulação indiscriminada da engenharia genética, gerando verdadeiras aberrações, conhecidas hoje como os seres mitológicos de algumas culturas, tais como os Titãs da Mitologia Grega. Os Sábios e Sacerdotes Atlantes, prevendo a destruição, emigraram juntamente com os genuínos da Raça para outros pontos da Terra, levando consigo seus vastos poderes e conhecimentos que desde então têm sido passados de boca para ouvido pelos Iniciados, nas "Escolas de Mistério", a fim de que não caiam em mãos dos adeptos do "Caminho da Mão Esquerda" e outros irresponsáveis. Os lugares que já eram Colónias, tais como o Egipto, pequena parte da Índia, América Central e do Sul, floresceram rapidamente com a chegada dos Sábios, assessorados por ET's. A principal Colônia, salvaguarda até aos dias de hoje, grande parte dos conhecimentos poderosos num local muito bem guardado abaixo da Esfínge e das Pirâmides (construídas pelos atlantes sob supervisão extraterrestre) e em outros Templos ao longo do Nilo, no Egipto. Tais "documentos" (os papiros sagrados de Toth) estão prestes a serem descobertos, segundo Edgar Cayce, famoso e conceituado paranormal norte-americano, que vislumbrou em visões tal facto, ainda na primeira metade deste século. Actualmente, descobertas formidáveis têm sido feitas no Egpito pelos arqueólogos, constatando novas pirâmides e até um gigantesco Templo (ou palácio) abaixo de uma "moderna" estrutura do período Ptolomaico.


Oficialmente, admite-se hoje que, provavelmente cerca de 55% do Antigo Egito ainda está sob as areias do Deserto e do tempo! E se há muito por desvendar, a hipótese da existência e consequente descoberta dos "documentos atlantes", ao contrário de absurda, como ainda teimam alguns cépticos, é bastante previsível e até, concreta. Que dizer então das ainda mais enigmáticas civilizações Pré-Colombianas, das quais se conhece muito pouco? Que segredos encerram? E as civilizações da Amazónia? Que escondem as autoridades científicas e governamentais das potências mundiais sobre tais assuntos, num procedimento semelhante ao adotado no fenômeno UFO? Porque existe uma incidência cada vez maior de aparições ufológicas em tais locais?

Associa-se a estes factores, segundo estudiosos ocultistas, à passagem de um astro de grandes proporções com frequência vibratória baixa, com uma excentricidade de órbita bastante acentuada, passando pelas circunvizinhanças do Sol num período que se encurta cada vez mais. A sua última passagem ocorreu a aproximadamente 6.666 anos (o nº da Besta?) sendo o provável co-responsável pela separação do continente em três grandes ilhas e sua posterior submersão, uma a cada passagem, até a última, Poseidonis (revelada a Platão pelos Sacerdotes de Tebas, no Egipto). Tal astro é mencionado exaustivamente pelos actuais espiritualistas, pela sua importância no momento de "Transição de Eras" que o Planeta atravessa. A NASA, Agência Espacial Americana, confirmou uma perturbação considerável nas órbitas dos planetas exteriores (Urano, Netuno e Plutão) descoberta no início dos anos setenta. "Esta perturbação de natureza gravitacional", sugere a NASA, "é provavelmente causada por algum corpo não identificado e de proporções consideráveis". Acredita-se que actualmente, final dos anos noventa,a sua posição seja bem mais próxima do Sol (embora a ciência negue a existência de tal corpo celeste). Embora as conjecturas apresentadas não sejam suficientes para provar a existência da Atlântida e sua cultura (a qual originou nossa 5º Raça Raiz, Ariana), elas são fortes em seu conteúdo e estão presentes nas tradições milenares de antigas civilizações e nos seus registos tais como os egípcios, vedas, e atuais tibetanos além das Escolas esotéricas, ocultistas e teosófilas .Chegamos finalmente a um actual "momentum vibracional" evolutivo planetário, muito parecido com o que existia em terras Atlantes na ocasião da sua decadência, tanto em termos da baixa energia referente a dor, sofrimento, violência, moral, geradas pela humanidade, como aspectos cósmicos e fenómenos de natureza extraterrestre. Um novo Salto Evolutivo está às nossas portas. Um novo Céu, uma nova Terra !

Quem sabe uma nova e melhor Atlântida?

http://www.geocities.com/Athens/Agora/9704/atlantis.html


domingo, agosto 27, 2006

Cartas de Amor de Mariana Alcoforado






Soror Mariana Alcoforado







Ignoro por que motivo te escrevo...
Vejo que apenas terás dó de mim, e eu rejeito a tua compaixão, e nada quero dela;
Enfado-me contra mim mesma, quando faço reflexão sobre tudo o que te sacrifiquei...
Perdi a minha reputação; expus-me aos furores de meus pais e parentes, às severas leis deste Reino contra as religiosas...
e à tua ingratidão, que me parece a maior de todas as desgraças...
Ainda assim eu sinto que os meus remorsos não são verdadeiros, e que do íntimo do meu coração quisera ter corrido muito maiores perigos por Amor de ti, e provo um funesto prazer de ter arriscado por ti vida e honra.
Tudo o que me é mais precioso não devia eu entregá-lo à tua disposição?...
E não devo eu ter muita satisfação de o ter empregado como fiz?...
Parece-me até não estar contente, nem dás minhas mágoas, nem do excesso de meu Amor, ainda que, ai de mim! não possa, mal pecado, lisonjear-me de estar contente de ti...
Vivo, e como desleal, faço tanto por conservar a vida, quanto perdê-la!...
Morro de vergonha... acaso a minha desesperação existe somente nas minhas ?...
Se eu te amasse com aquele extremo que milhares de vezes te disse, não teria eu já de longo tempo cessado de viver?...
Enganei-te... tens toda a razão de queixar-te de mim... Ah ! por que não te queixas?...
Vi-te partir; nenhumas esperanças posso ter de mais ver-te. e ainda respiro!... É uma traição...
Peço-te dela perdão.
Mas não mo concedas...
Trata-me rigorosamente.
Não julgues os meus sentimentos veementes...
Sê mais difícil de contentar...
Ordena-me nas tuas cartas que morra de Amor por ti...
Oh! conjuro-te de me dares esse auxílio para poder vencer a fraqueza do meu sexo, e pôr termo às minhas irresoluções, por um golpe de verdadeira desesperação.
Um fim trágico obrigar-te-ia, sem dúvida, a pensar muitas vezes em mim...
A minha memória te seria cara, e quiçá esta morte extraordinária te causaria uma sensível comoção.
E a morte não é porventura preferível ao estado a que me abaixaste?...
Adeus!
Muito quisera nunca haver posto os olhos em ti.
Ah! sinto vivamente a falsidade deste sentimento, e conheço neste mesmo instante em que te escrevo, quanto prefiro e prezo mais ser infeliz amando-te, do que não te haver jamais visto.
Cedo sem murmurar à minha malfadada sorte, já que tu não quiseste torná-la melhor. Adeus.
Promete-me de conservar uma terna e maviosa saudade de mim, se eu falecer de dor; e assim possa ao menos a violência da minha paixão, inspirar-te desgosto e afastar-te de tudo!
Esta consolação me será suficiente, e, se é força que te abandone para sempre, desejara muito não deixar-te a outra.
Dize, não seria nímia crueldade a tua, se te servisses da minha desesperação para, pareceres mais amável, mostrando que acendeste a maior paixão que houve no mundo?
Adeus outra vez...
Escrevo-te cartas excessivamente longas, o que é uma falta de consideração para ti: peço-te mil perdões, e atrevo-me a esperar que terás alguma indulgência para com uma pobre insensata, que o não era, como tu bem sabes, antes de amar-te.
Adeus.
Parece-me que demasiadas vezes me dilato em falar do estado insuportável em que estou.
Contudo agradeço-te, do íntimo do meu coração, a desesperação que me causas, e aborreço o sossego em que vivi antes de conhecer-te...
Adeus.
A minha paixão cresce a cada momento.
Ah! quantas cousas tinha ainda para dizer-te!...

Mariana Alcoforado nasceu em Beja em 1640, com onze anos, é obrigada a entrar para um convento, a fim de ficar a salvo do brutal conflito provocado pela guerra com Espanha. Impotente face à irrevogável decisão do pai, Mariana submete-se, mas anseia pelo dia em que poderá regressar ao seio da família e à liberdade da vida real. Até que um regimento francês chega à cidade: o belo rosto de um oficial a cavalo, uma fortuita troca de olhares e, por fim, o encontro. Mariana, já quase com vinte anos, deixa-se dominar por uma paixão cega e inflamada. Introduzindo-se secretamente na sua cela durante várias noites seguidas, o Capitão Bouton dá-lhe a conhecer o amor físico, proporcionando-lhe o primeiro grande êxtase da sua vida. Mas a notícia dessa relação rapidamente se difunde e causa escândalo. Bouton é mandado regressar a França. Destruída, Mariana escreve-lhe, sem resposta, cartas extraordinariamente belas e apaixonadas. faleceu na Cidade de Beja em 1723.




Time of Peace


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A peace of freedom... Melody