sábado, novembro 25, 2006

Três Homens num Bote



Não fosse Jerome K. Jerome (1859-1927) um dos maiores vultos do humor inglês e tudo o que haveria a dizer acerca de Três homens num bote caberia na genérica etiqueta «Livro de Bordo»: estamos afinal (são estas as palavras do autor) diante o registo «fiel» das peripécias vividas por George, Harris e J. (já para não falar do cão!) ao longo de uma passeata pelas águas do imponente Tamisa.
As coisas complicam-se quando o suposto relato se revela a súmula de episódios tanto mais hilariantes quanto se pretender compará-los a uma simples viagem de barco.
Publicado pela primeira vez em 1889, Três homens num bote foi entusiasticamente recebido na Inglaterra e nos Estados Unidos, sagrando Jerome K. Jerome mestre de gerações de profissionais da comédia.
Lição de refinamento britânico com um século de idade? Apenas a prova de que hoje, como nos itinerários burgueses da Inglaterra do século XIX, o humor e a ironia são bens ao serviço de alguns males bem humanos.Curiosamente, não foi pensado como texto humorístico, muito pelo contrário: o objectivo era fazer uma descrição histórica e topográfica do Tamisa, o mais aristocrático dos rios ingleses, que Jerome adorava.
Mas a graça e a frivolidade foram-se infiltrando e as passagens divertidas alcançaram tanto sucesso que, sempre que ‘os bocados históricos’apareciam, eram cortados pelo editor de Home Chimes, que estava a publicar o texto em folhetim.
Os três protagonistas eram, há que dizê-lo, bastante genuinos: Harris era Carl Hentschel, um polaco que muita gente confundia com um alemão; George era George Wingrave; e o próprio Jerome completa o trio que costumava apanhar o comboio em Richmond para ir passar os domingos no rio.
Montmorency, o cão, também existiu, e o episódio com a chaleira baseia-se num incidente real, tal como as explorações dos três homens se baseiam nas experiências de Jerome e dos seus dois amigos.

-Fui consultar o meu médico. É um velho amigo que me toma o pulso, me vê a língua e fala do tempo, tudo de graça, sempre que penso que estou doente; por isso, achei que lhe ia fazer um grande favor se fosse agora ter com ele. “Aquilo de que um médico precisa”, pensei eu, “é prática e cá estou eu para isso. Ele vai praticar mais comigo do que com setecentos pacientes vulgares que só têm uma ou duas doenças cada.”E assim fui de imediato ter com ele e ele perguntou-me: –Então, que te aconteceu?Eu disse:–Não vou roubar-te mais tempo, caro amigo, a contar-te o que aconteceu. A vida é breve e ainda podias morrer antes de eu acabar. Mas vou dizer-te aquilo que não me aconteceu. Não tenho artrose da lavadeira. A razão por que não tenho artrose da lavadeira é coisa que não percebo; mas é um facto que disso não sofro. Porém, de tudo o resto sofro.E disse-lhe como tinha feito aquela descoberta...

Um livro leve e hilariante, onde cada um de nós se identifica em parte ou em todo.
Imtemporal e imperdivel.


Melody

1 comentário:

Luda disse...

Eu também só não sofro de hipocondria. De resto, sofro de tudo...:)

Time of Peace


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A peace of freedom... Melody