quarta-feira, janeiro 17, 2007

Howard Schatz











Sem palavras...


Melody

Esher e a Obra


Uma das principais contribuições da obra deste artista está na sua capacidade de gerar imagens com impressionantes efeitos de ilusões de óptica, com notável qualidade técnica e estética, tudo isto, respeitando as regras geométricas do desenho e da perspectiva.

Foi numa visita à Alhambra, na Espanha, que o artista conheceu e se encantou pelos mosaicos que haviam nas mesquitas do lugar, herança das invasões árabes do passado. Escher achou muito interessante as formas como cada figura se entrelaçava a outra e se repetia, formando belos padrões geométricos. Este foi o ponto de partida para os seus trabalhos mais impressionantes e famosos, que consistiam no preenchimento regular do plano, normalmente utilizando imagens figurativas e não geométricas, como os árabes faziam por causa da religião muçulmana, que proíbe tais representações.

A partir de uma malha de polígonos, regulares ou não, Escher fazia mudanças, mas sem alterar a área do polígono original. Assim surgiam figuras de homens, peixes, aves, lagartos, todos envolvidos de tal forma que nenhum se poderia mexer.
Tudo representado num plano bidimensional.

Destacam-se também os trabalhos do artista que exploram o espaço. Escher brincava com o facto de ter que representar o espaço, que é tridimensional, num plano bidimensional, como a folha de papel. Com isto ele criava figuras impossíveis, representações distorcidas e paradoxos.

Inocência


Não existe maior beleza do que a inocência. É tão doloroso perdê-la...!

Melody

Sexo e amor



Francesco Alberoni tem um novo livro editado em Portugal. Chamou-lhe "Sexo e Amor". A obra, que surge quase 30 anos após a publicação de "Enamoramento e amor" ,foi escrita como "uma consequência natural" dos estudos que sobre a matéria dos relacionamentos humanos Alberoni tem vindo a produzir.

"Sexo e Amor" marca um novo ponto de viragem , dando, pela primeira vez, uma ordem e um sentido à trama de aspectos divergentes e convergentes que relacionam o amor e o sexo.

"Pensei que valeria a pena estudar as várias sociedades, as várias combinações entre sexo e sociedade. Fiz vários retratos, a partir de centenas de entrevistas, e com eles tentei transmitir aquilo que os homens e as mulheres de hoje sentem, desejam, querem, repudiam".

Para Francesco Alberoni, "é muito difícil, senão impossível", que uma relação baseada só em sexo possa durar.
"Na sociedade actual, em que o acesso à Internet está cada vez mais facilitado, o sexo ficou, por isso mesmo, mais vulgarizado", conclui.
Alberoni também adianta que "é muito frequente que sejam as raparigas a terem mais cedo relações sexuais do que os rapazes. E isto acaba por lhes trazer grandes desilusões, porque afinal a um desejo muito intenso não corresponde uma grande satisfação sexual.
O amor está em permanente conflito com o sexo. Ao contrário do que acontecia há um século, nos dias de hoje há cada vez mais uma tendência para chegar ao amor através do sexo.
A pornografia, que a Internet tornou mais acessível aos mais jovens, favorece muito a sexualidade promíscua e a bissexualidade. Tudo isto funciona como um obstáculo ao que chamo o enamoramento. Porque este passa necessariamente por diversas fases. Passa pelo fascínio, pela interpretação, pelas provas de reciprocidade.
Por isso é que cada vez mais difícil formar-se um casal.
Transformar o enamoramento em amor é muito complicado. Há formas de paixão que têm todas as características de enamoramento mas que, no fim de contas, têm também mecanismos de autodestruição".

Para Francesco Alberoni, "o amor hoje em dia só acontece se houver uma extraordinária intimidade física e espiritual. Quem ama e não é amado sofre muito". O autor de "Sexo e Amor" defende também a ideia de que há de facto diferenças entre a sexualidade feminina e masculina.
"Este é, aliás, o único domínio em que há diferenças. As mulheres são mais sensíveis aos odores, ao tacto. Uma mulher apaixonada pode ter um orgasmo só pelo facto de tocar um dedo da mão do homem que ama. No homem, pelo contrário, todas as sensações estão mais concentradas no pénis " .

Na obra agora editada pela Bertrand, Francesco Alberoni recorre a uma combinação de histórias verídicas e relatos na primeira pessoa, colhidos de entrevistas ou de obras literárias. A partir desta estrutura narrativa o sociólogo analisa as diferentes experiências amorosas subsequentes de cada uma das formas que o amor e o sexo podem tomar. O livro é um sucesso editorial em Itália onde em três meses vendeu mais de 30 mil exemplares.

Imperdível.

Melody

Um Homem de Honra


"Basta pensar nas pessoas às quais foi casualmente delegado o poder mesquinho de renegar minha nacionalidade alemã, para tornar explícito o ridículo desse ato."


Assim reagiu o escritor Thomas Mann à sua expulsão do país pelo regime nazista, em 2 de dezembro de 1936.
No jornal Völkischer Beobachter (Observador Popular), os nazistas publicavam as chamadas listas de expatriados.

Os nomes de Thomas Mann, sua mulher e seus filhos mais novos constavam da lista número 7. Dos mais velhos – Erika e Klaus – já havia sido tirada a cidadania alemã.


Ascensão nazista não causou supresa


Para Thomas Mann, a situação não causava surpresa:

"Certamente eu desafiei a cólera dos detentores do poder. Não apenas nos últimos anos, através da minha distância e da expressão de meu horror a eles. Muito antes disso eu enfrentei esse desafio porque precisava; pois antes da burguesia alemã desesperada de hoje, eu já havia percebido há muito quem e o que subia ao poder".
Thomas Mann sabia exatamente do que falava, por ter ele próprio apoiado por muito tempo idéias conservadoras, nacionalistas e antiparlamentares, tendo passado a defender posições democráticas somente durante a República de Weimar (1919–1933).
Em 1930, Thomas Mann fez em Berlim um discurso, apelando "à razão alemã" e apelando à burguesia e às forças socialistas para que rejeitassem o fanatismo fascista.

Suas palavras foram interrrompidas por tumultos organizados pela polícia nazista e o escritor foi obrigado a abandonar o recinto pela porta dos fundos.


Decisão de não voltar ao país


A tomada de poder por Adolf Hitler surpreendeu Thomas Mann durante uma viagem para dar palestras pela Holanda, Bélgica e França. Ele decidiu então não mais voltar ao país.

Seu exílio duradouro começava aí.

"Não sonhei e não cantaram em meu berço que eu acabaria passando meus melhores dias como emigrante, banido de casa e condenado a um indispensável protesto político. Nasci mais para ser um representante do que para ser mártir", confessava.
Por muito tempo ainda, Thomas Mann continuou tentando através de seu silêncio evitar uma ruptura definitiva com o país e a quebra do contacto com o público alemão.

Apenas em 1936 ele tomou uma posição clara em relação ao regime.

A gota d'água foi um texto publicado pelo diário suíço Neue Zürcher Zeitung, que tentava imprimir a Mann traços anti-semitas.


Silenciar perante o mal irreparável?


Somente então Thomas Mann quebrou definitivamente seu silêncio:

"Um escritor alemão, acostumado à responsabilidade através da língua, deve agora silenciar? Silenciar absolutamente perante o mal irreparável, que no meu país foi e é praticado em corpos, almas e espíritos, no direito e na verdade, na humanidade e na pessoa? Não foi possível. E assim vieram as manifestações de minha parte contra o programa nazista. Minhas posições contrárias ficaram inevitavelmente claras, tendo levado ao absurdo e ridículo acto de meu expatriamento".


Após ter perdido a nacionalidade alemã a 2 de dezembro de 1936, Thomas Mann permaneceu de início na Suíça, tendo emigrado mais tarde para os Estados Unidos.

O Ministério de Esclarecimento Popular e Propaganda do regime nazista anunciava em janeiro de 1937: "Thomas Mann deve ser apagado da memória de todos os alemães, por não ser digno de carregar o nome de alemão".


Indignado, o escritor declarou a respeito dos nazistas: "Acusam-me de ter insultado a Alemanha, ao ter-me declarado contra ela? Eles são incrivelmente ousados a ponto de confundir a si próprios com o país. Talvez não esteja longe o dia em que o povo alemão vai preferir qualquer coisa menos ser confundido com eles".

Rachel Gessat (sv)

A Montanha Mágica explicada por Thomas Mann




O que devo eu então dizer sobre o próprio livro (Montanha Mágica) e ainda por cima, como deve ser lido? O começo é uma exigência muito arrogante, a dizer que se deva lê-lo duas vezes. É claro que essa exigência é retirada imediatamente para o caso de que na primeira vez se tenha ficado entediado. A arte não deve ser nenhum trabalho escolar nem dificuldade, nenhuma ocupação contre coeur, mas sim deve alegrar, entreter e animar e aquele sobre o qual uma obra não exerce esse efeito então este deve deixar a obra de lado e voltar-se para outra. Mas quem chegou uma vez até o final com a “Montanha Mágica” então eu aconselho a lê-la mais uma vez, pois seu feitio particular, seu caráter como composição traz consigo que o prazer do leitor aumentará e se aprofundará da segunda vez, - como se deve já conhecer uma música para poder gozá-la de acordo.

O que devo eu então dizer sobre o próprio livro (Montanha Mágica) e ainda por cima, como deve ser lido? O começo é uma exigência muito arrogante, a dizer que se deva lê-lo duas vezes. É claro que essa exigência é retirada imediatamente para o caso de que na primeira vez se tenha ficado entediado. A arte não deve ser nenhum trabalho escolar nem dificuldade, nenhuma ocupação contre coeur, mas sim deve alegrar, entreter e animar e aquele sobre o qual uma obra não exerce esse efeito então este deve deixar a obra de lado e voltar-se para outra. Mas quem chegou uma vez até o final com a “Montanha Mágica” então eu aconselho a lê-la mais uma vez, pois seu feitio particular, seu caráter como composição traz consigo que o prazer do leitor aumentará e se aprofundará da segunda vez, - como se deve já conhecer uma música para poder gozá-la de acordo. Não casualmente utilizei a palavra composição, a qual se costuma reservar à música. A música sempre influenciou meu trabalho formando fortemente meu estilo. Os poetas são, na maioria das vezes, outra coisa no fundo, eles são pintores ou gráficos ou escultores ou arquitetos deslocados ou outra coisa qualquer. Quanto a mim, eu pertenço aos músicos entre os poetas. O romance sempre foi para mim uma sinfonia, um trabalho de contraponto, um tecido de temas no qual as idéias têm o papel de motivos musicais. Ocasionalmente aludiu-se - eu mesmo o fiz também - à influência que a arte de Richard Wagner exerceu na minha produção. Não quero de modo nenhum negar esta influência e eu segui particularmente Wagner também no emprego dos Leitmotives que eu transferi para a narração e não assim como Tolstói e Zola e também ainda no meu próprio romance de juventude, “Os Buddenbrook”, de um modo meramente naturalista caracterizante, assim por dizer de modo mecânico, mas sim na maneira simbólica da música. Isto eu experimentei pela primeira vez em “Tonio Kröger”. A técnica que eu exercitei lá está empregada na “Montanha Mágica” num limite muito mais abrangente, da maneira mais complicada e que perpassa tudo. E a isso se refere a minha exigência arrogante de ler duas vezes a “Montanha Mágica”. Podemos reconhecer e apreciar adequadamente o complexo de relações entre música e idéias que ela forma quando já conhecemos sua temática e somos capazes de interpretar não só para trás, mas também para diante a palavra-chave que alude a um símbolo.
Com isso eu volto a aludir a algo que já toquei, a saber, ao mistério do tempo com o qual o romance lida de diversas maneiras. Ele é um romance de tempo num duplo sentido: uma vez historicamente, tentando esboçar o quadro interior de uma época, o tempo do pré-guerra europeu, depois porém porque o puro tempo mesmo é o assunto dele, que ele trata não apenas como experiência de seu herói, mas sim também através de si mesma. O livro é sobre aquilo mesmo que ele narra; e descrevendo o encantamento hermético fora do tempo de seu herói, ambiciona por seu meio artístico a abolição do tempo e através da tentativa de emprestar ao mundo universal da música e das idéias que ele abarca, a cada momento uma presença plena e produzir um mágico “nunc stans”. Mas para trazer à plena congruência sua ambição de ser sempre ao mesmo tempo conteúdo e forma, ser e aparência, e ser sempre aquilo do qual se trata e fala, esta ambição vai mais longe. Ela se refere ainda a um outro tema fundamental, o tema da elevação, à qual é dado o epíteto alquímico. Os senhores se lembram: o jovem Hans Castorp é um herói simples, um filhinho de família hamburguesa e engenheiro comum. No febril hermetismo da montanha mágica essa matéria simples passa por uma elevação que o torna capaz de aventuras morais, espirituais e sensuais, das quais nunca teria sonhado no mundo que é sempre designado ironicamente como planície. Sua história é a história de uma elevação, mas ela é elevação também em si mesma, como história e narração. Ela trabalha com os expedientes do romance realista, mas não é, ela sempre ultrapassa o real elevando-o simbolicamente e tornando-o transparente para o espiritual e o ideal. Já no tratamento de suas figuras ela o faz que para o sentimento dos leitores todas são mais do que aparentam; elas são expoentes, representantes e mensageiros de regiões espirituais, princípios e mundos. Espero que mesmo assim não sejam sombras e alegorias andantes. Ao contrário, eu estou despreocupado pela experiência de que os leitores experimentam esses personagens, Joachim, Clawdia Chauchat, Peeperkorn, Settembrini como pessoas reais, das quais o leitor se lembra como pessoas com as quais travou realmente conhecimento.
O livro cresceu espacial e espiritualmente no caminho da elevação muito além do que o autor originalmente planejou com ele. A short story tornou-se o volumoso romance de dois tomos - uma desventura que não teria acontecido se a “Montanha Mágica” tivesse permanecido aquilo que muita gente no início via nela e ainda hoje nela vêem: uma sátira à vida do sanatório para tuberculosos. Ela causou a seu tempo não pouca sensação no mundo da medicina, causou nela parcialmente adesão, parcialmente indignação, uma pequena tempestade nos jornais especializados. Mas a crítica da terapia do sanatório é seu primeiro plano, um dos primeiros planos do livro, cuja característica é ter um grande segundo plano. A advertência doutrinária dos riscos morais da cura pelo repouso e de todo o ambiente estranho fica na verdade por conta do senhor Settembrini, o racionalista e humanista retórico que é uma figura entre outras, uma figura humorística-simpática, às vezes também o bocal do autor, mas de maneira alguma o próprio autor. Para este, morte e doença e todas as aventuras macabras pelas quais ele deixa seu herói passar são justamente o meio pedagógico pelo qual se alcança uma imensa elevação e impulso do herói simples para além de sua situação original. Elas são, justamente como meio pedagógico, valorizadas amplamente de modo positivo, mesmo se Hans Castorp no decorrer de sua vivência ultrapassa sua devoção inata diante da morte e compreende uma humanitariedade que não nega e rejeita racionalmente a idéia da morte e todo escuro e misterioso da vida, mas as inclui sem se deixar dominar espiritualmente por ela. O que ele aprende a compreender é que toda saúde mais elevada deve ter passado pelas profundas experiências da doença e da morte, assim como o conhecimento do pecado é uma condição prévia da salvação. “Para a vida”, disse Hans Castorp uma vez para Madame Chauchat, “para a vida há dois caminhos: um é o usual, direto e ajuizado. O outro é mau, ele passa pela morte e este é o caminho genial.” Essa concepção de doença e morte como uma passagem necessária para o saber, para a saúde e para a vida torna a “Montanha Mágica” um romance de iniciação (initiation story).
Eu não inventei essa denominação. A crítica ma deu à mão posteriormente e eu faço uso dela uma vez que eu devo lhes falar sobre a “Montanha Mágica”. Eu me deixo ajudar com prazer pela crítica alheia pois é um erro pensar que o autor mesmo seja o melhor conhecedor e comentador de sua própria obra. Ele é, talvez, enquanto ainda trabalha e está nela. Mas uma obra consumada, que já ficou para trás, se torna cada vez mais algo separado dele, estranho, na qual e sobre a qual outros com o tempo estão muito melhor informados do que ele, de modo que podem recordar-lhe muita coisa que ele esqueceu ou talvez até mesmo nunca tenha sabido claramente. A gente tem, em geral, a necessidade de ser lembrado de si. Não se está de modo algum de posse de si mesmo, nossa autoconsciência é quanto a isto fraca, uma vez que nós de modo algum e nem sempre temos o nosso ser integralmente presente. Apenas em momentos de rara claridade, concentração e visão geral nós temos conhecimento verdadeiro de nós e a modéstia de pessoas notáveis que surpreende muitas vezes, tem seu motivo em boa parte nisso: que elas geralmente sabem pouco sobre si mesmas, não estão conscientes de si mesmas e se sentem, com razão, como pessoas comuns.


Extracto de Conferência apresentada por Thomas Mann em Maio de 1939 aos estudantes da Universidade de Princeton

Time of Peace


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A peace of freedom... Melody